terça-feira, 3 de julho de 2012

Por que não uma Marcha LGBT?


A notícia do cancelamento – ou adiamento, caso prefira – da XI Parada da Cidadania LGBT de João Pessoa, que ocorreria no dia 1o de julho de 2012, caiu como um balde de água fria na expectativa do público que habitualmente participa dessa manifestação. Por LGBT leia-se lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, que se trata de um setor não desprezível da população.

Malgrado o esclarecimento de última hora divulgado nas redes sociais pelo Fórum de Entidades LGBT da Paraíba, que promove a parada, algumas questões seminais não foram respondidas, outras vieram à tona, mostrando a fragilidade de um movimento que mal consegue manter-se em pé, frente à apatia, à indiferença e à falta de consciência de seu público potencial.

O Fórum, em nota, justifica o adiamento da parada pela falta de compromisso da Funjope e do governo estadual, que retiraram parte do apoio que vinha sendo negociado desde março, para a realização do evento. O motivo alegado foi a falta de instalação de um palco para o show no final da manifestação, e a redução das atrações prometidas, de três para um cantor/cantora. Dos quatro trios elétricos programados, contava-se ao certo com um, oferecido pela OAB. O adiamento, portanto, segundo os organizadores, foi estratégico, para que não houvesse retrocesso quanto à estrutura do evento.

Por certo, quando se fala em retrocesso, pensa-se na perda de alguns aparatos chamativos que têm caracterizado as paradas LGBT não só da cidade, mas em todas as outras promovidas em nível nacional. O número de trios elétricos, além do barulho ensurdecedor que causa, serve para impressionar, para mostrar o poder de barganha das entidades LGBT, já que dinheiro para bancá-los, definitivamente, não têm. Por outro lado, os trios são palanques para discursos inflamados e enfadonhos, palco para a reafirmação do engajamento à causa por alguns políticos.

Os shows que sempre ocorrem no final da parada servem para brindar o público que se dispôs a acompanhá-la, como uma espécie de apoteose ou confraternização. Juntamente com os trios elétricos, isso reforça o lado festivo e carnavalesco da parada, que no fundo se funda quase que exclusivamente por este caráter. O evento, em si, tem seu perfil político, ao proporcionar a visibilidade de um segmento que na maior parte do ano se sente coagido ao recolhimento, por temer a repressão moral e a violência. 

Contudo, a carnavalização da parada como estratégia de mobilização expõe a fraqueza do movimento.
Ao ver inviabilizada a festa, o Fórum preferiu adiar o evento certamente por temer, além da perda do glamour, a realidade que não se pode negar: sem a festa não há parada porque não há compromisso do público com suas questões políticas e reivindicatórias. São poucos os gays, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros que têm consciência de si mesmos, de seus direitos ou da falta deles.

Não há massa crítica disposta à luta, a fazer eco às justas proposições dos movimentos. O que se tem, em sua maioria, é uma classe intelectual enrustida, de certo modo confortável em seu anonimato, levando uma vida dupla como heterossexual em sua representação social, e homossexual, nos recônditos motéis da periferia. Por outro lado, tem-se também um povo sofrido, humilhado, ignorante quanto à integridade de si, que vive sua homossexualidade no limite da marginalidade.

Talvez o recuo dos governos em apoiar a parada seja fruto dessa constatação, de que o movimento, no fundo não representa muito, porque esse muito não tem interesse em ser representado. Talvez o descompromisso da esfera de poder para com um setor tão carente de políticas públicas se dê também pela proximidade eleitoral, onde rebanhos maiores se tornam o foco das políticas demagógicas.

O que incomoda mesmo é a falta de autonomia do movimento, que recua diante do descaso das entidades oficiais. Mais político seria botar o povo na rua, seja com quantos fossem, fazer barulho da forma mais primária que se dispõe, aos gritos, mostrar que há vontade política de mudar as coisas, de se fazer visível, de incomodar, de fazer refletir. Nesse ponto, vejo como muito mais avançadas outras manifestações que ocorreram recentemente na cidade, como a Marcha da Maconha e a Marcha das Vadias. Elas foram à rua com quase nenhuma estrutura, com megafone na mão e de peito aberto, lutando por suas causas e criando um fato político.

Ao contrário da Parada da Cidadania LGBT, quando teremos uma Marcha pela Cidadania LGBT na Paraíba? Esse é o desafio que se coloca aos movimentos.


Henrique Magalhães  

Parada de luta e alegria


Em todo o mundo se comemora o Dia do Orgulho Gay, celebrando o direito à diversidade sexual e à liberdade de expressão afetiva por parceiros de mesmo sexo. A data faz referência ao dia 28 de junho de 1969, quando os homossexuais que frequentavam o bar Stonewall Inn e imediações, em Nova Iorque, resistiram à repressão policial. Tinha início a mobilização dos gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, organizando-se em grupos militantes pelos direitos civis nos Estados Unidos da América e em vários países do mundo.


Os embates políticos se espalharam gerando o que se chamou de movimento de minorias, agrupando o movimento gay, o movimento negro e o movimento feminista contra a sociedade machista, racista e discriminatória. A sexualidade libertária eclodia com força arrebatadora, questionando os padrões morais cristãos e patriarcais.

Como uma de suas manifestações, as Paradas LGBT (de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) ocupam as ruas das principais cidades do mundo com a força política da visibilidade, da presença que ratifica a existência incontornável. A alegria própria das paradas, sem dissociar-se de seu caráter político, agregou a população não só homossexual a essa causa justa e urgente pela conquista de civilidade.

Com espírito festivo e orgulho de ser, comemora-se nesse 1 de julho em João Pessoa mais uma parada LGBT. Portanto, todos à praia do Cabo Branco para formar essa força irresistível do avanço dos direitos civis.


Henrique Magalhães <henriquemais@gmail.com>

sábado, 24 de dezembro de 2011