segunda-feira, 10 de maio de 2010

Katita: o preconceito é um dragão


Quem já não conhece Anita Costa Prado e sua personagem Katita? No meio dos quadrinhos brasileiros, Anita conseguiu em pouco tempo não só tornar sua personagem uma referência obrigatória como conquistar um espaço de destaque, colecionando indicações e prêmios. A perseverança, o bom relacionamento com o público e a clareza de objetivos é o segredo do sucesso de Anita, além da temática inusual e a coerência da obra. A tudo isso, acrescente-se o belo traço de Ronaldo Mendes, que dá uma bela representação à personagem.


Pela Marca de Fantasia Anita lançou o álbum Katita: tiras sem preconceito , que se encontra na segunda edição. Com ele, estabeleceu uma boa rede de leitores, muito além do alcance de público da editora. Suas ações em eventos e contatos com a imprensa foram fundamentais para a difusão do álbum e da personagem, consolidando seu trabalho como um dos mais criativos e inovadores dos quadrinhos humorísticos brasileiros. O trabalho de Anita ressente-se de uma difusão ampla, que chegue ao grande público, que só o mercado editorial pode oferecer. A falta de visão dos editores brasileiros infelizmente tem relegado ao círculo de aficionados o que há de inovador em nossos quadrinhos.

Henrique Magalhães


Katita: o preconceito é um dragão
Anita Costa Prado & Ronaldo Mendes
Série Corisco, nº 7
João Pessoa: Marca de Fantasia, 2010. 32p. 14x20cm. R$5,00
www.marcadefantasia.com

domingo, 2 de maio de 2010

Rango: 40 anos de fome de viver

H. Magalhães


Uma das figuras mais marcantes da cultura brasileira na década de 1970 foi um tipo raquítico, depauperado, imundo e faminto. Longe do glamour da crescente indústria cultural, foi uma personagem de quadrinhos quem chamou a atenção de um público seleto, mas barulhento. Falamos de Rango, de Edgar Vasques, que estreou para o leitor nacional pela L&PM Editora, cuja obra inaugural foi justamente o próprio Rango.

Os 40 anos de Rango, completados em 2010, merece mais que um olhar saudosista, merece o reconhecimento de sua inequívoca longevidade e de sua surpreendente contemporaneidade. Rango chocou o bom gosto da elite e da classe média nacional ao expor as entranhas purulentas da sociedade. Personagem jogado à própria sorte, retratava de forma crua os seres indignos que perambulam maltrapilhos pelos becos e sob os viadutos das grandes cidades. Sua fonte de abastecimento, quando não também sua moradia, se restringe aos lixões, os esgotos de nossa sociedade de consumo.

Rango funcionou muito bem como crítica contundente das injustiças sociais, de forma explosiva em plena ditadura militar, ufanista do “Brasil grande” e do “milagre econômico”. Com humor cáustico, que de forma alguma arranca risos, Edgar construiu com Rango uma lenda, que como toda lenda, com sua aura fantasmagórica, acabou por marcar toda sua obra, tirando-lhe do foco a grandiosidade imagética do conjunto de sua produção.

Mas não culpemos Rango por isso. Seu impacto, bem como sua redundância, que se aplica tão bem ainda nos dias atuais, deve-se à imutável realidade brasileira, 40 anos depois patinando nas mesmas desigualdades. Edgar é maior que Rango, que já é monumental. Junto com Rango, Edgar merece as homenagens por criar uma personagem que resiste ao tempo, que resiste às fórmulas fáceis dos humorísticos atuais, por fim, que resiste à indiferença injuriosa do mercado editorial.
Enquanto houver fome, Rango!









Leia mais sobre Edgar Vasques no fanzine Top! Top! 23.
www.marcadefantasia.com/resenhas/revistas/toptop23.htm

Fanzine Top! Top! ganha versão digital

H. Magalhães

O fanzine Top! Top!, editado por Henrique Magalhães, ganha novo projeto editorial. A cada edição impressa, agora será editada uma edição virtual, que poderá ser carregada livremente no sítio da editora Marca de Fantasia (www.marcadefantasia.com). A edição eletrônica, ou e-zine, conta com novo registro de publicações periódicas, o ISSN, fortalecendo o catálogo da editora com mais essa indexação editorial.

A versão impressa do fanzine tem uma trajetória bastante diversificada, especializando-se na promoção dos novos quadrinistas brasileiros e no resgate da obra dos mestres, além de apresentar textos críticos e resenhas sobre a produção independente nacional. A cada número tem-se uma longa entrevista com um autor em evidência ou consagrado, traçando um perfil pessoal e de sua obra. Os quadrinhos congêneres internacionais também têm destaque no Top! Top!, a exemplo dos cubanos e argentinos, que já participaram de suas edições.

Com o objetivo de promover ainda mais os quadrinhos, o fanzine terá as duas edições simultâneas, a impressa e a virtual. Cada publicação, contudo, terá características próprias, de acordo com os condicionamentos do meio. A versão impressa continua fundamental como registro e por atender aos que curtem a materialidade da publicação, como os colecionadores e fãs. Ela também é importante pelo fácil acesso para leitura e pesquisa em gibitecas e outras bibliotecas.

A versão eletrônica do fanzine mantém o mesmo conteúdo, mas com nova diagramação. A possibilidade de navegação por meio de hiperlinks abre novas perspectivas para o fanzine, que ganha dinamismo em sua leitura e amplitude, podendo remeter a fontes complementares. A utilização de cores é outro diferencial na versão digital, o que é um forte impedimento na versão impressa. Além da capa, que na edição impressa é a única peça colorida, na edição virtual todo o projeto gráfico pode ser pensado com outro padrão estético, o que valoriza ainda mais o trabalho dos autores.

A difusão é, sem dúvida, o objetivo principal do fanzine Top! Top!, que ganha em força e qualidade com a edição digital. Com isso, espera-se que ela conquiste novos leitores para a edição impressa, que continua um mimo editorial.
_______________________

Top! Top! 26 (impresso)
Com Edgard Guimarães
Edição Henrique Magalhães
Marca de Fantasia, fevereiro de 2010, 52p, formato 14x20cm. R$8,00.

Top! Top! 26 (e-zine, em pdf)