sábado, 25 de setembro de 2010

O artista e a política


Recebi do artista paraibano Sergio Lucena, radicado em são Paulo, a única manifestação relativa à edição 13 d’A Marmota, em que compartilho uma matéria publicada na revista Veja sobre "hegemonia cultural", que me chamara a atenção.  As considerações de Sergio sobre a situação política do país e a relação do artista com a política são absolutamente pertinentes, de maneira que, com a concordância dele, decidi divulgar nossa troca de e-mails ocorrida neste final de setembro de 2010. Esta edição d’A Marmota é um bom motivo para uma reflexão sobre a indiferença e omissão sobre nossa vida quotidiana.
Henrique Magalhães

Meu caro Henrique,
Desculpe a demora em responder agradecendo o envio deste e-mail. É um alivio para mim saber que você está atento aos fatos, e que não se deixou sucumbir ao totalitarismo hegemônico que se configura no Brasil em torno  da candidatura Dilma.

Ao que tudo indica, no lento processo de maturação política do país,  caminhamos para uma nova experiência totalitária mal disfarçada num capitalismo de favores, onde a máxima absolutista prevalece: aos amigos tudo, aos inimigos a força da lei.  Este atraso histórico está refletido claramente na infantilidade da nossa sociedade, que vê Lula como um pai e agora quer deitar-se no colo da mãe. No geral, não temos consciência nem responsabilidade individual, e este governo bem sabe usar desta inocência infantil. Um dos exemplos disto é a avacalhação moral imposta por este governo como norma de conduta, um prejuízo imensurável ao avanço do país rumo a um lugar civilizado, nada poderia ser mais comprometedor ao nosso futuro que esta pérfida estratégia, naturalmente que a censura das idéias e da livre expressão é parte do projeto.
Forte abraço
Sergio Lucena

Caro Sergio
De todas as "Marmotas" que já enviei, esta foi a que gerou mais indiferença dos leitores. Você foi a única pessoa que comentou e fico muito feliz que partilhamos o mesmo pensamento. Estou indignado e envergonhado com este país e não vejo um futuro brilhante para ele. Esta eleição, em particular, me mostrou isso e me levou a uma desesperança sem fim.
Felizmente, no nível pessoal, estou muito tranquilo e feliz. HM

Meu querido,
Embora muitos dentre nós estejam atentos aos fatos, para minha surpresa, de varias partes do meio cultural, e especialmente de alguns colegas artistas da Paraíba e do Nordeste, tenho recebido toda sorte de criticas por discordar frontalmente do caminho que o país está trilhando, a meu ver, o caminho da barbárie.  

Assisto a fúrias destes artistas e de muitos ideólogos sociais a acusarem à busca solitária do artista, que é minha crença e meu caminho, como uma postura arrogante e descompromissada politicamente com a sociedade, eu digo que é justo o contrario o que se passa. Eu digo que a sociedade muito se beneficia desta atitude do artista, que ao se ajustar a si mesmo ele atende com perfeição a demanda profunda do seu tempo. 

O mundo melhora. É imprevisível quão longe pode alcançar o efeito de um único impulso verdadeiro do artista em direção a realizar sua obra. Isto pode afetar a humanidade e o curso da historia.
O artista ao realizar a verdade da sua vida, sua obra, produz algo que irá atuar no mundo de uma maneira tão eficaz quanto natural, influenciando todo o corpo social infinitamente, bem mais que qualquer ato filantrópico ou de proselitismo que ele se preste a realizar.

A função social da arte é tão somente marcar simbolicamente o alcançado enquanto consciência humana, o que não é pouco.
A pietá do Michel Angelo está lá para que não esqueçamos quem somos para nos lembrar aonde chegamos, diante dela não há como retroceder, ela é nossa consciência enquanto humanos, sem a arte voltaríamos às trevas.

O escritor francês André Malraux, um ateu, anuncia que o século 21 será religioso ou não será. Seu colega argentino Jorge Luiz Borges vê o século 21 como o da ascensão da barbárie. 
A meu ver ambos pressentem a mesma coisa, dificilmente Malraux fala de religião aos moldes do passado, no meu entendimento ele se refere à etimologia da palavra, sua origem, religião vem de religare, religar, conectar-se outra vez.  Da mesma forma a observação de Borges aponta a barbárie como consequência natural da alienação contemporânea. Do desligamento do homem da sua natureza essencial, e da sua opção por elementos substitutos que é o padrão contemporâneo de produção e consumo. A barbárie a que se refere o Borges diz respeito ao fato que o próprio homem se tornou objeto de consumo, ele também é um produto de massa. Massificado, alienado e sem nenhuma individualidade.


A arte do século 21, e esta é uma afirmação minha, retomará seu papel sagrado, seu lugar de guia dos sonhos de um homem inteiro e integrado. Seu papel de linguagem espiritual, ponte de comunicação entre a parte e o todo, uma nova arte totêmica, expressão do comum a todos, um elemento de comunhão.
É este o pensamento que me guia e sustenta, esta loucura é cíclica, uma hora passa.
Fico feliz em saber que afora isto estás bem e feliz, esta é a maior contribuição que podemos dar neste momento ao planeta.
Com um abraço fraterno,
Sergio




Ilustrações: reprodução de pinturas de Sergio Lucena.
Visite seu site em http://www.sergiolucena.net

A invenção da verdade ou a versão dos fatos

A quem só vê o progresso - como “nunca na história deste país”- tão propalado pelo governo é bom não perder de vista o que ocorre nos bastidores da política palaciana, que vem à tona eventualmente na tinta da dita imprensa burguesa. A máquina orquestrada para a manutenção do poder não deixa nada a dever aos manuais fascistas, que inspiram os tiranetes terceiromundistas, respaldados pelo voto popular. Tomo a liberdade de reproduzir o artigo de Otávio Cabral, de Veja, para que sirva de alerta inclusive aos “lulistas” deslumbrados e aos que ainda se iludem com o PT. Henrique Magalhães

A BUSCA DA HEGEMONIA

A estratégia de supressão da verdade no Brasil caminha em três frentes, conforme os ensinamentos do comunista italiano Antonio Gramsci. Na semana passada foi dado mais um passo importante nessa direção

Otávio Cabral

Há dois meses, um político respeitável testemunhou uma cena insólita no gabinete do presidente Lula. Aliado de primeira hora do governo, ele discutia estratégias eleitorais com o presidente. De repente, sem se anunciar, irrompeu na sala o ministro Franklin Martins, da Comunicação social, eufórico, com as mãos ocupadas por recortes de jornal com notícias sobre a criminosa ofensiva desencadeada pela presidente da Argentina contra a imprensa. Citando trechos das reportagens, Franklin se entusiasmava com a ousadia de Cristina Kirchner em sua guerra contra os jornais e emissoras de televisão argentinos. O presidente ouviu o relato, passou os olhos pelos recortes e fitou o visitante, como se pedisse sua opinião sobre o assunto. “A Argentina é que deveria invejar nosso modelo de liberdade”, disse o político. Franklin apanhou os recortes e deixou o gabinete. A conversa voltou ao tema anterior, eleições, mas deixou no ar um intrigante clima de constrangimento. Franklin Martins foi militante partidário enquanto exerceu a profissão de jornalista, até tornar-se Ministro da Supressão da Verdade do governo Lula.

A estratégia se dá em três frentes, seguindo a cartilha do italiano Antonio Gramsci (1891-1937). Ele ensinou que o comunismo pode ser implantado sem uma revolução nos padrões bolchevistas desde que se suprimam as vozes discordantes até que os militantes obtenham a “hegemonia cultural” da nação.

*A primeira frente da estratégia consiste em criticar a imprensa livre em toda oportunidade, havendo ou não motivo para isso, de modo que, aos poucos, vá se disseminando a descrença em tudo que é publicado sem a chancela oficial do governo ou do partido.

*A segunda frente é focada em fazer e apoiar leis que tornem cada vez mais inviável o exercício da imprensa livre. São leis que tentam submeter os jornalistas a organizações de controle dominadas por agentes partidários e governamentais – e as de origem econômica que visam a minar gradativamente as fontes de financiamento da imprensa pela iniciativa privada na forma de anúncios.

*O terceiro mandamento gramsciano determina que, na busca da “hegemonia cultural”, o comunista deve criar ou apoiar jornais, revistas e redes de televisão controlados pelo partido, para que eles concorram com a imprensa livre na busca da atenção de leitores e telespectadores. Dessa maneira, ensina Gramsci, o militante comunista pode fazer seu proselitismo fingindo que está defendendo os interesses gerais da população ou lutando para elevar o nível do jornalismo praticado no país. Tudo enganação. O único objetivo é atingir a “hegemonia cultural”, quando então caberá ao partido determinar o que é versão e o que é fato.

A estratégia teve na semana passada mais um avanço em sua vertente número 3. O presidente Lula compareceu à inauguração da TV dos Trabalhadores (TVT), uma concessão dada ao sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que investiu 15 milhões de reais no projeto – dinheiro oriundo do imposto compulsório descontado dos trabalhadores. Lá, de novo, estava Franklin Martins, elogiando o modelo. O canal, mantido com dinheiro de impostos, terá parte de sua programação produzida pelo governo. “Isso é uma revolução. Mas é irreversível e está apenas começando”, disse o ministro Martins, orgulhoso como um prefeito que inaugura uma ponte.

Desde 2007, Martins passou a despejar dezenas de milhões de reais em cerca de 3 000 pequenas emissoras de rádio no interior do Brasil. Cada uma delas recebe de 5 000 a 10 000 reais por mês, o preço que cobram para divulgar apenas notícias de interesse do partido e do governo. “Nós, por convicção ou necessidade, já tendemos a ser governistas. Ainda mais agora, recebendo verbas para financiar nosso funcionamento, a adesão ao governo Lula é total. Não há rádio ou TV no interior do país que fale mal do governo”, diz um deputado da base aliada, dono de uma emissora de rádio em um pequeno estado do Norte. Citando a própria experiência, ele acrescenta: “Hoje, mais de 50% do orçamento da minha emissora vem de verbas federais. Antes do Lula, a rádio dependia do prefeito. Com o dinheiro do governo, já modernizamos os equipamentos e reformamos a sede da emissora. Os locutores e apresentadores estão orientados a dizer que tudo o que o governo faz é sempre bom”.

Na semana passada, durante uma manifestação no Rio de Janeiro contra a censura aos programas humorísticos, Marcelo Madureira, do programa Casseta & Planeta, da Rede Globo, fez um desabafo. Perguntado sobre quem estaria por trás do cerco que se tenta fazer às liberdades, respondeu: “É o seu Franklin Martins e essa picaretagem lá que ficam mandando recadinhos para a gente, que não pode fazer piada”. O Palácio do Planalto tem “lembrado” a emissoras que o governo é o responsável pela renovação das concessões dos canais de televisão. Tem lembrado também que é o governo que define o destino das milionárias verbas de publicidade das empresas estatais, que patrocinam programas e eventos televisivos. Os recados não chegam em forma de piada. Viva a “hegemonia cultual”.

Veja, edição 2180, ano 43, nº 35, 1º de setembro de 2010, p.66-67.

Marca de Fantasia investe na produção digital

Desde que surgiu em 1995, a editora Marca de Fantasia segue as mudanças que se impõem nos campos editorial, tecnológico e comportamental. Dos recursos rudimentares da efervescente época dos fanzines, chegou à impressão a laser e offset, procurando alcançar o melhor nível na perspectiva de produzir com qualidade editorial e baixo custo.

Um passo importante, diria fundamental, foi sua inserção na internet, ampliando horizontes, queimando etapas e suprimindo intermediários. Com o sítio atualizado mensalmente – às vezes duas ou mais vezes ao mês – a editora chega rapidamente ao leitor, pratica a venda direta a preço de custo e diversifica sua gama editorial.


Sempre atenta às inovações, a editora começa a vislumbrar a consolidação de uma nova forma de produção, que fomenta um produto novo, para atingir o leitor que também se mostra aberto às mudanças rápidas, quando não vertiginosas. As edições virtuais, ou eletrônicas, prometem ocupar um largo espaço no campo da editoração, e a Marca de Fantasia já está presente nessa nova realidade.

De forma experimental, lançou alguns livros e álbuns de quadrinhos em arquivos digitais para serem lidos no computador ou em qualquer veículo que dê suporte ao formato pdf. São muitas as vantagens desse tipo de edição: o penoso processo editorial de impressão e montagem das publicações é substituído pela edição digital, que por ser mais rápida, pode intensificar o número de novas publicações. O custo de produção cai praticamente zero, reduzindo-se à assinatura do provedor. Para o leitor isto traz a vantagem de ter o livro por um preço ainda menor que o praticado para a edição impressa, já que a publicação pode ser replicada indefinidamente.

Para o padrão editorial da Marca de Fantasia, as edições impressas tinham que ser em preto e branco, com número limitado de páginas. Com a edição virtual, dispõe-se de outros recursos inerentes ao meio, como a utilização de cores e a navegação por hiperlinks, tornando a leitura mais dinâmica.

A Marca de Fantasia passa, então, a trabalhar com duas formas de edição: as impressas, veiculando as obras em quadrinhos; as virtuais, para os livros de ensaios sobre História em Quadrinhos, Artes, Comunicação, Cultura Pop e afins. Estamos cientes que o público de quadrinhos conserva um forte apego à materialidade das revistas e álbuns, e manteremos essa característica. Para o público acadêmico, cada vez mais habituado aos avanços tecnológicos, os livros teóricos no formato digital são uma vantagem, pelas inúmeras possibilidades oferecidas pelo formato.

Henrique Magalhães
18/07/10

Jogos de prazer

O Dia do Orgulho Gay é pra se comemorar todo dia e não apenas no 28 de junho. Isto o fazem muito bem Rico e Jurandir, que sabem levar a vida com boa dose de orgulho e muita disposição de luta, pra fazer valer o direito ao seu prazer.

  Rendez-vous - Henrique Magalhães